quarta-feira, 3 de abril de 2013

Breve comentário sobre um povo sem memória. Ditadura gay?

Ontem, dia 1° de abril, na palestra de abertura da V Semana de Direitos Humanos da UFRGS, Marcos Rolim encerrou sua fala no painel que relembrava o início da Ditadura civil-militar ("uma noite que não acabou", conforme corretamente afirmava o nome do painel) fazendo referência à ascensão de bancadas religiosas fundamentalistas no congresso e demais instâncias de poder.

Achei interessantíssimo e inevitável de enfatizar essa fala, justamente porque estamos, de fato, diante de um contexto político e social que se utiliza das mesmas ferramentas e dos mesmos meios que, muito se acredita, foram condenados historicamente e hoje reemergem por trás de discursos mascarados. Para justificar um golpe de Estado (revolução, diriam xs civis orgulhosxs - ou inglórixs, como preferirem), alegou-se defesa da nação, que viria a ser "tomada" por "comunistas raivosxs" . Montou-se, a partir dessa alegação covarde, uma força desproporcional com alvo direto a uma parcela específica da população, sob o argumento de que estariam defendendo o país de uma ditadura.  Digo covarde porque, afinal, o futuro se encarregaria de provar a real intenção daquelxs que chegaram ao poder - qual tenha sido, de enriquecer ilicitamente e ascender politicamente.  (I)logicamente, essa defesa se daria através de outra ditadura. Ironia do destino ou não, o senso-comum atualmente repete o mesmo argumento viciado para promover atos discriminatórios e discursos de ódio contra toda a comunidade que não segue o sistema heteronormativo. É a "ditadura gay", alegam xs papagaixs do sistema.

O que vemos efetivamente, contudo, é justamente o mesmo ciclo retrógrado de um passado que não conseguimos superar: a deturpação da verdade por quem detém poder a fim de manter o status quo. Quero dizer, através de meios e instrumentos muito semelhantes aos ditatoriais (projetos de leis garantindo privilégios para xs poderosxs, uso da mídia para alienar a população), uma bancada se fortalece e paulatinamente passa por cima de direitos fundamentais, fazendo-nos inevitavelmente relembrar uma noite que, cada vez mais clareia na nossa mente, realmente ainda não acabou. Um povo sem memória, é essa a conclusão lógica a que chegamos. Cabe a nós, no entanto, decidir se queremos reproduzir a mesma triste história do passado, em que deixamos uma geração inteira se (sub)desenvolver sufocada por ideais repressores; ou então desejamos, enquanto há forças de representação disponíveis, acordar de um sono profundo antes que se torne pesadelo. Felizes foram aquelxs que interromperam as palavras de Marcos Rolim na noite de ontem para aplaudi-lo, pois assim deixamos claro que, sim, estamos de acordo: a bancada fundamentalista não nos representa, não enquanto violentamente quiserem denegrir a resistência ao sistema heteronormativo!

Há braços, há luta.

Um comentário:

  1. sistema heteronormativo ou sistemahomonormativo?
    Qual é o melhor!!! A verdade, é que quando se perde a vergonha na cara,aí então é o momento de
    quem tem o mínimo de dignidade fazer valer os valores tão caros a instituição Familia!

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